23/09/08

Corre por aquilo em que acreditas
















Corre por entre as árvores
Sobe esses montes
Não é por te cansares
Que te fazes um nome

Corre, força os limites
Travessa as dores
Não é com convites
Que se corre pelas cores

Corre mais depressa que o tempo
Fá-lo correr lento
Dá-te, que é a tua glória
Alguém te dará a vitória

Corre por aquilo em que acreditas
Corre mais longe que as intrigas
Que corre por tantas vidas

Sobe ao mais alto escalão
Corre, mas corre com paixão
E aqui estarei para te dar a mão

Corre para quem não vê mais além
Corre porque há sempre alguém
Que corre por ti também

Bruno Fernandes  
 

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Na sociedade em desenvolvimento













Na sociedade em desenvolvimento
As indústrias são automatizadas
As mãos produzem menos
E as habilidades não valem nada

Tens assim muito mais tempo
Para mostrares que não és preciso
Se queres contribuir pró crescimento
Só tens de ser despedido

Mas não te esquecas de morrer cedo
Para não saires muito caro
Senão ainda te apontam o dedo
Por aumentares o défice de estado


Bruno Fernandes  

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Nunca terás um endereço
















Arrastas contigo os restos
De um passado mal vivido
Enganas os seres honestos
Tudo em ti é negativo

Afinas as armadilhas
Escondes-te por de trás de máscaras
Consegues sempre o que querias
E depois afastas-te

Não acreditas nos valores da vida
Não fazes amor por amor
Tudo em ti é fingimento e intriga
A vida contigo não tem sabor

Vives acima dos teus meios
Juntas-te só por interesso
Dás-te a quem tem dinheiro
Nunca terás um endereço

Quando finges que choras
É para que tenham pena
Ás vezes chora a consciência
Mas nunca chora a Madalena


Bruno Fernandes  
 

Não tenho nada para dizer













Não tenho nada para dizer
E deixo andar dia após dia
Esta pesada monotonia
Que minha alma anastesia

Chego mesmo a ser apenas um corpo
Um simples vegetal
No trabalho sou um robot,
Uma máquina industrial

Bem vindos ao mundo racional !

Que saudades que eu tenho
Dos tempos em que tinha tempo
Sonhava alto e corria contra o vento.


Bruno Fernandes  
 

Preciso de ter o meu espaço












Aqui estou eu de novo
Um pouco ferido, um pouco roto
Pronto para desembalar as guitarras
Libertar as minhas mágoas

Não fui feito para os compromissos
Nem para o amor a longo prazo
Tenho cá os meus hábitos e os meus vícios
E preciso de ter o meu espaço

Não me perguntem quem dos dois falhou
Porque apenas o destino se enganou
Nota após nota procuro a falha
Mas a melodia também se espalha

Cada um vive no seu mundo
E não é fácil se entender
Apesar de ter uma coisa cá no fundo
Que talvez prefere se render

Bruno Fernandes 

Uma vida a viver













Tens uma vida a viver
Tens uns desejos para satisfazer
O tempo passa à tua frente
Mas que se apaga com a corrente
O mar de luz está tão longe
A tua cruz é a cruz de monge

Que da vontade se faça a verdade
Que do querer se faça o prazer
Que da memória não se faça a tua história
E que esse momento não se grave no tempo
E o teu ser tem mais que fazer
Do que chorar por tudo não ter

Há uma porta para passares à frente
Mas que se apaga na tua mente
O medo é ilusão e tu pensas que não
Perdeste a visão mas não percas a razão

Tens uma vida a viver
Tens uma chama a arder
Podes ter um futuro diferente
A brasa ainda está quente

Recorda um sonho
Recorda que é só um
Na memória de um sono
Uma vitória e um dono


Bruno Fernandes  
 

Vira a página















Nada tinha a ver
Com tua maneira de ser
Esse teu olhar sereno
Com brilho e sofrimento

Nessa máscara erguendo
O sarcasmo do contento
Eras traquina, bela e alegre
Eras pequenina mas tão mulher

Enquanto para ti olhava
A mim próprio perguntava
Onde estará a máscara ?
E por de trás, quem é que estava?

Alguém que soube caminhar
Por onde ninguém tinha caminhado?
Que soube enfrentar
Obstáculos do passado?

Alguém que soube me convencer
Que é preciso ter força de vontade
Alguém que soube me dizer
Que para ser feliz nunca é tarde.

Vira a página, segue em frente
Vai pela vida, e não pela corrente


Bruno Fernandes  


___________________________Photos Libres

Vou tentar não caír












Chumbei na tua prova
Não a posso repetir
Discutir não está na moda
Tens mais portas para abrir
Eu isolei-me no teu espaço
Muros, grelhas e portas de aço
Tenho teu muro para subir
Vou tentar não cair

Saio lá para fora
Tenho um caminho para seguir
Mas quando a noite acorda
Começa a máscara a ruir
Sou outra vez aquele palhaço
Mata, esfola pelo teu abraço
Tenho teu muro para subir
Vou tentar não cair

Quem dos dois se está a enganar?
Tu por quereres partir
Ou eu por querer ficar?
Tenho teu muro para subir
Vou tentar não cair

De ti fiquei com a nódoa
Sem remédio para a diluir
Ainda bem que ao menos me sobra
Orgulho e força para partir
Da alma ficaste-me com um pedaço
Eu ofereço-te esse meu fracasso
Tenho teu muro para subir
Vou tentar não cair


Bruno Fernandes  
 
_________________________________Photo by Eric Draper

Por ela ninguém vai chorar












Ela nasceu no meio da guerra
Nunca aprendeu a amar
Nem viu ninguém sonhar

Há milhões delas cá na terra
Vivem quando fogem da morte
Se houver amanhã é só por sorte

Ela tem o sonho mais puro
Quer pedir perdão aos soldados
Assumir a culpa dos parvos

Ver tantos mortos é tão duro
Ela tem oito anos de idade
Quer dar ao país a liberdade

Ela encontrou uma bela flor
E cheirou-lhe o perfume
Já empestado de sangue e fumo

Seu coração não aguenta a dor
Ela ou bem vai para o caixão
Ou vai haver revolução

Ela respirou a fundo
Foi correndo no meio dos tiros
Ela não tem inimigos

Seu corpo deixou neste mundo
Caído no chão a sangrar
Por ela ninguém vai chorar

Bruno Fernandes 
 
__________________'War Children'; Port Sunlight, Wirral by Shaun

Onde é que pensas chegar assim?











Onde é que pensas chegar assim ?
Não vez que a morte é tão certa
Para ti como para mim
Onde é que pensas chegar assim ?

Não vez que a vida é um dom
E já muita gente sofre assim
Não faças os maus e os bons
Onde pensas que vais assim ?

Olha para a noite lá fora
E diz-me qual estrela brilha
Mais para ti do que para mim
Olha pró céu e acorda
Onde é que pensas chegar assim ?

Não vez que o universo é imenso
E que nós somos todos iguais
Não vez que não tem bom senso
Haver os grandes e os banais

Onde é que pensas chegar assim ?


Bruno Fernandes 

Toda a gente quer vencer













Cada sonho, cada vontade
Cada meta nos faz avançar
Cada sonho traz sofrimento
Cada vontade traz incerteza
A vida é um perpétuo movimento
Em que a meta nunca chega

Toda a gente quer vencer
Toda a gente lá quer chegar
Toda a gente acaba por perder
Num ou noutro lugar

Por quantos erros
Por quantos vícios
Tem um homem que passar
Até vencer os medos e os perigos
E talvez deixar de pensar


Bruno Fernandes  
 
_____________________________________Photos Libres

Travessa as portas do tempo













De pupilas fechadas
Purifica o teu espírito
Pernas enlaçadas
Entra no mito

Liberta os sentidos
Ao mais fundo da alma
Como já os antigos
Procura a tua calma

Em relação com os
Quatro elementos
Travessa as portas dos tempos

Procura respostas
Esquece as perguntas
Há verdades opostas
As chaves estão juntas

Tua alma é um espelho
Reflecte um conselho
Deixa-te levar
Começa a meditar
Pensa e sê, tenta e vê
Não há porquê
É só querer ...


Bruno Fernandes  
 

Não tem nexo












Não tem nexo
Não tem sentido
Nem cabe em verso
Aquilo que vivo

É estranho
É desconhecido
É um ganho
Que parece perdido

Não é empenho no início
Mas ganha tamanho de um vício

É esquisito
É misterioso
Parece ser perigo
Mas não é perigoso
Nem é bem vivido
É mais suposto
É o início
De algo de novo

É poderoso e sensível
É fresco e gostoso
Por mais que pareca incrível
Sinto-me amoroso


Bruno Fernandes  
 

________________Foto: Classical_kiss_by_josemanchado

Aqui há..











Quis estar longe de tudo
Foi para onde não me encontravam
Foi para lembrar e meditar
Foi meu coração escutar

Aqui há montes para subir
Há rios para travessar
Há caminhos para seguir
Teu coração conquistar

Aqui há estrelas a voar
Há grilos a cantar
Há animais a passear
Minha vontade de te amar

Aqui há noites ao luar
Há tempo para queimar
Teu coração conquistar
Minha vontade de te amar

Bruno Fernandes 


_____________________________Photos Libres

Mais um ano na idade













Mais um ano na idade
Apenas mais um dia que passa
Mais um dia que na verdade
Não me serve de nada

Não é porque o tempo se pode calcular
Que a vida bate certo
E como se pode avaliar
Se um percurso está errado ou correcto ?

Ás vezes quando sobra algo para dar
Não se tem ninguém por perto
Ou quando nos querem prendar
Nem sempre se está aberto

Quando foi preciso me expressar
Deu-me para ficar quieto
E quando havia de calar
Vomitava o alfabeto

Mais um ano na idade
Mais uma distância que separa
Quem eu sou na realidade
De quem já fui quando criança

Bruno Fernandes 


_____________________________Photos Libres

Chove cá dentro em mim

















Chove cá dentro em mim
Mas chove de tal maneira
Que parece não ter mais fim
Mesmo que não queira
Chove cada vez mais assim

Quando tento me ultrapassar
Para ver o que há para além de mim
Dou comigo a levar
Com a chuva que cai também ali

Como posso eu me lembrar
Que no céu brilham estrelas
Se já tenho medo de sonhar
E a chuva não me deixa vê-las?

Chove! Deixa chover!
Que a chuva é mesmo assim
E verás, quando o sol erguer
Que cresceste um pouco em ti.

Bruno Fernandes 

__________________________________Foto: Evespoertry

Uma visão, tua cara














Qual a mágoa que sara?
Qual a força me agarra?
Uma consciência pesada
Uma visão, tua cara

Qual angústia, qual drama
Qual murmúrio me espanta
Se não há pergunta que me inflama?
Se não há um posto não há nada
Porquê teu rosto, tua cara ?

Não há razão para isso
Nem emoção nem há risco
Um abstracto conquisto
Um disparato paraíso

Tal um quadro fixo nas paredes da mente
Um muro liso que no ar me suspende

Esse olhar diferente ficou-me no inconsciente
Esse teu sorriso será que é um aviso?
Será que é um sinal, uma esperança enterrada?
Ou coincidência banal, uma visão, tua cara..

Bruno Fernandes 


___________________Photos Libres

22/09/08

Nesta corrida do tempo













Quero um dia sem pensar
Sem nada pedir
Um dia a passar
Deixar o tempo fugir

Um dia só pra respirar
Sem mais nada esperar
Um dia para olhar
E ver o mundo rodar

Deixar meu mundo parar
Sem ter de me preocupar
Com o que eu vivo a sonhar
Com o que eu devo tentar

Quero um dia para apagar
Quem eu sei que sou
E deixar acordar
Quem eu sou e não sei

Não me quero ultrapassar
Nesta corrida do tempo
Deixem-me procurar
Se sou bem quem eu penso

Qual o momento no tempo
Onde não há tempo pró momento?


Bruno Fernandes

_____________________________Foto: b_rizzle

Quero ser autónomo













Activa-me os sentidos
Esclarece-me as ideias
Liga-me os circuitos
Que as pilhas já estão velhas

Põe-me na rede dessa gente
Onde o amor se consome depressa
Quero ser mais um utente
A solidão já não me interessa

Transforma-me os neurones
Dá-me novas bases
Porque eu sofro dos sintomas
De quem olha para trás

Quero ser autónomo
Sem aceder á memória
Dá-me só o código
Do acesso á vitória


Bruno Fernandes

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Por aqui, por ali













Gostas de bares e de concertos
De amar em desconcertos
Passas noites aos trambolhões
Mergulhas nas paixões

Tudo o que fazes levas a sério
Vibras ao som do Rock
Tens fazes de mistério
Mas aí não há quem toque

Entre borgas e guitarras
Falta-te qualquer coisa
Acordas, não dizes nada
Tua alma apoisa

Mergulhas nesse vazio
Em busca de qualquer caminho
Sentes-te andar de roda
Mas gostas de borga

Não entendes meio mundo
Ao outro não te dás a conhecer
O que se passa contigo no fundo
Até tu nem queres saber

E vais andando assim, por aqui, por ali
Num caminho sem meta nem fim
Ao encontro do tempo, nem stress nem lamento
Vives ao momento, teu mundo é mais lento

Bruno Fernandes


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Momentos Blues












 




Caiem paredes, fazem-se muros
Talham-se redes em tempos duros
Nascem histórias fazem-se lutas
Revivem memórias no meio de ruas

Sopram os ventos
Mais fortes e mais lentos
Travessam o caos
São cortes do tempo
Bons e maus momentos

Esquecem-se gestos, Lembram-se mágoas
Amores incertos, Consciências pesadas
Procura-se razões, Encontra-se diferenças
Seguem-se impulsões, Mais do que intensas

Noites em branco dias perdidos
Mas no entanto momentos pedidos
Guarda-se segredo, desvenda-se mentira
Avalia-se o peso da verdade escondida

Noites em branco, dias perdidos
Mas no entanto, copos bebidos
Guarda-se o medo, desvenda-se poesia
Avalia-se o peso da verdade tão fria



Bruno Fernandes  

 
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Castigado por um sonho









 



Folhas de outono
Dançam na rua
Inspiram esperança
Mas tanta amargura

Castigado por um sonho
Que me faz aguentar
A dor que eu suponho
Me permite voar

Perco-me no caminho
Sem ter onde me agarrar
Ignorando o destino
Com o medo a dominar

Sou um louco por loucura
Egoísta por ternura
Guitarrista porventura
Ou uma triste sepultura?

Sou uma alma sem saber
O que vale a pena ser


Bruno Fernandes  


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